O músico, produtor, arranjador, executivo e o que
mais for, Quincy Jones, já fez tantas coisas nessa vida, que, um documentário
de duas horas, mal dá para explorar com detalhes a carreira do camarada, que está
com 85 anos. Dirigido/filmado por sua filha Rashida Jones (atriz, conhecida na versão
americana de ‘The office’), o documentário ‘Quincy’, acabou de entrar no
catálogo da Netflix. E, mesmo revelando um bocado de coisas, mal consegue se
aprofundar em tudo. Já que, cada fase da vida do lendário mr. Q, valeria um doc
à parte.
Rashida
optou por não ser linear. Começa pelos tempos atuais, mostrando o coma no qual
ele ficou, por cinco dias, em 2015 (causado por álcool e diabetes) e, depois,
se altera entre vais e vens no tempo, mostrando o menino, que nasceu num
cenário de extrema pobreza, em Chicago (sua mãe, doente mental, cozinhava ratos
para os filhos!), até ‘ver a luz’, quando se deparou com um piano. Então,
Quincy Delight Jones Jr., percebeu que, aquilo, era o que ele queria: viver de música.
Do começo
(depois de se aplicar também em instrumentos de sopro), fazendo parte da banda
do lendário Lionel Hampton, até se aventurar pelos clubes de jazz de Nova York
-- e depois se arriscar numa empreitada pela Europa, onde o moderno jazz foi
reconhecido, principalmente, na França --, Quincy foi vencendo as barreiras uma
a uma. Pois, sempre escutava coisas como ‘um negro não pode fazer isso’. Q foi lá
e fez: de arranjos e produções para grandes damas do jazz, a trilhas sonoras
para filmes e séries, passando por sua própria gravadora e produtora de cinema
e TV (a QWest, que bancou ‘A cor púrpura’, de Spielberg e, que revelou a Oprah; a série do Fresh Prince, que revelou Will Smith; e, na parte musical, lançou os discos do New Order nos EUA)
até revistas, como a já extinta ‘Vibe’.
No decorrer
de sua intensa vida, Quincy acumulou esposas (curiosamente, sempre mulheres
brancas ou louras, especialmente) e montes de filhos, sobretudo, do sexo
feminino. Filho homem, só tem um, com a esposa sueca. Rashida, é uma das duas
filhas que o mestre teve com a atriz cult dos anos 70, Peggy Lipton (de ‘The Mod
Squad’, resgatada depois por David Lynch, em ‘Twin Peaks’). Seu último envolvimento
(sem casar), foi com a também atriz Nastassja Kinski, que lhe deu outra filha.
Na época em
que esteve casado com Peggy, no começo dos 70s, Q teve um aneurisma cerebral,
quase fatal. E, não só: os médicos descobriram que havia outro! Mas, ele não
apenas driblou a morte, como ainda alcançaria os seus maiores feitos, nos anos
80: produziu o disco que mais vendeu até
hoje (‘Thriller’, de Michael Jackson, menino que ele 'pegou pra criar', depois de te-lo visto em 'The wiz') e o compacto idem (‘We are the world’, do
projeto USA for Africa).
Enquanto o
documentário se desenrola, acompanhamos o último grande feito dele: a criação
do Museu Nacional da História e Cultura Afro-Americana, em Washington D.C. Lá,
estão lembranças de todos os grandes nomes com quem ele já trabalhou (e não só);
e, também, as memórias de um tempo em que os músicos negros sequer podiam entra
pela porta da frente dos clubes nos quais tocavam. Lugares que, hoje,
estenderiam tapete vermelho para ele. Well done, Mr. Q!
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