Nesta semana, chega aos cinemas brasileiros um concorrente do Oscar nas categorias principais: filme, atriz e direção, entre outras. “Bela Vingança” (“Promising Young Woman”), desde já um dos melhores e mais perturbadores filmes do ano. Tanto o trabalho de atuação e entrega de Carey Mulligan (como a perturbada Cassandra), como a direção firme de Emerald Fennell (atriz de séries como ‘The Crown’ e ‘Killing Eve’, estreando na direção de longa, com muita competência), bem como toda a parte técnica do filme (além do bom roteiro, fotografia e som impecáveis) é irretocável. O resultado final é um dos mais formidáveis filmes de vingança já vistos.
Acompanhamos a tímida e frágil Cassandra, que apesar de já estar na casa dos 30 anos, ainda mora com os pais e não tem namorado (não que isso seja obrigatório, parece nos dizer a personagem, embora não os evite). E, mesmo tendo sido uma universitária com altas notas na cadeira que escolheu (medicina), preferiu trabalhar como atendente de cafeteria. Por quê? É o que o filme vai nos revelando, em camadas: houve um evento trágico e marcante em seu passado (quando estava na universidade), do qual ela só vai se livrar do trauma, após concluir um bem urdido plano de vingança. Que, vai aplicando lentamente. E o modo como este plano é desenrolado (que lembra até os intrincados e violentos filmes de vingança do diretor coreano Chan-Wook Park, de “Oldboy”) nos deixa presos à trama e sem piscar olhos. Nada nunca é o que parece. Todos os clichês são demolidos. Mas, sem nunca subestimar a inteligência do espectador.
A diretora (e também autora do roteiro) tece um excelente filme feminista, sem entrar no discurso fácil da ‘lacração’ que rege o cinema e os dias atuais. Sim, várias questões que - no dia a dia -, sempre põem a mulher em posição inferior ou de perigo, são mostradas e demolidas. Sem panfletarismo barato. A entrega de Mulligan no papel de Cassie é tamanha, que nos deixa sem fôlego. A moça com um futuro promissor, como diz o título original (baseado no de uma matéria sobre estudante envolvido em caso de estupro, nos Estados Unidos, que a maioria da imprensa se referia a ele como um ‘jovem promissor’, de modo complacente, porque homem branco e rico), abre mão de tudo, para alcançar o seu objetivo.
cotação: rugido alto
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