Pular para o conteúdo principal

HellRadio: o inferno no seu dial!

Como alguns de vcs me pediram pra continuar fazendo aqui, e se eu nao contar certas historias que vivi, ninguem vai contar (ou vao ignorar mesmo), aqui vai mais uma: o lendário programa de rádio HellRadio.

Era o começo dos 90s, o rock estava mudando de novo, o grunge batia a porta. mas certos tipos de bandas nao tocavam nem mesmo na dita radio rock do rio, a fluminense fm, vulgo 'maldita'. meu broder andre mueller (o andre x, baixista da plebe rude), na epoca era meu vizinho, ja que tinha a loja rock-it!, em sociedade com dado villa-lobos (legiao). na esquina da minha casa, entao a gente se via muito, pq eu vivia lá -- onde, tbm, programavamos mostras de filmes trash sábados a tarde, junto com rolinha e andré barcinski. E pensamos em levar a proposta de um pgm para a flu, onde eu tinha certa entrada (ja tinha feito a programação do mchawk, de skate music, e tbm fui, por algum tempo, o bucaneiro fantasma do pirate radio, em que jamais divulguei que era eu quem fazia). A ideia era dar um gás na rock-it com o pgm, ja que, como nao rolava grana, a flu nos cedeu de usar vinhetas anunciando a loja e tbm o rio fanzine. Era uma especie de permuta.

E assim foi. Nos deram a hora da zona morta das radios: entre 8 e 10 da noite, depois da voz do brasil, bem na hora de novela e jornal, ninguem ouve radio nessa hora. ninguem, a nao ser os desgarrados. e logo chamamos a atenção destes, pq, no hellradio, tocava tudo o q era banido ou ignorado pela flu, que sempre foi conservadora com os novos sons na programação, e tinha preconceito contra crossover, eletronica, hip hop e talz. nós nao tinhamos qq tipo de preconceito. entao, foi no hellradio que nomes como ministry, body count, dwarves, mudhoney, beastie boys, rollins band e tantos mais nessa linha tiveram chance, alem de tbm tocar demos de bandas locais e nacionais, como a de uma certa banda de forrocore de brasilia chamada raimundos. em poucas semanas ja eramos o talk of the town dos malucos e alternativos. e, logo, recebemos tbm uma ligação do dono da radio, que nao apenas odiava o q a gente tocava (ele achava q ministry, por ser eletronico, era 'dance music'!), como tbm nao gostava do q a gente falava no ar. usavamos uma linguagem direta, e, muitas vzs, criticavamos a própria radio no ar! O resultado foi que, dois meses depois, eles pediram pra gente sair.

Saimos. Mas, em poucos dias, a radio foi inundada por cartas e mais cartas dos ouvintes do pgm, muitas mesmo, algumas ate ameaçando de morte o gerente -- que a gente dedurou no ar antes de sair --, e eles nao tiveram outra opção a nao ser nos chamar de volta! era isso ou ficar recebendo telefonemas irados e perder audiencia. voltamos para mais uma rodada (no total, o programa mal durou um ano) e foi ainda melhor do que antes. nessa fase, passamos a fazer festas hellradio na torre de babel, em ipanema, onde nos foram cedidas noites de terças-feiras pelo sempre antenado gringo cardia, q ouvia o pgm e sacou a nossa onda. nestas festas, se apresentaram, pela primeira vez na zona sul carioca, nomes como piu piu e sua banda, gangrena gasosa, planet hemp (em um de seus primeirissimos shows), alem de outros, como inhumanoids!, p ex. eu e andre eramos os djs das noites, exibiamos filmes, clipes e desenhos de ren & stimpy, e dava um publico razoavel. Isso tbm durou pouco, cerca de seis meses. pq, vcs sabem, como é ate hj, quase nao existe indie na zs e ninguem quer pagar pra entrar. assim, nada dura (e nem paga os custos).

Durante o hellradio, pessoas bem bacanas iam na radio atender o telefone pra gente, ja q eu e andre ficavamos selecionando e tocando as musicas (vinil, cds e cassete), como carla rebecca (nossa ruiva fetiche, que era balconista da rock it), nosso querido (e falecido) rick novaes, amigo de brasilia do andre, que, mais adiante, se reinventou como dj sob o nome de mr spaceley. e, sobretudo, o bernadão erótico. esse foi o nome que demos pro bernardo (futuramente, Bnegão), pq ele tinha um jeito suave, meio chef de south park, de atender as pessoas, sobretudo as mulheres. e, como o pgm era bem na hora do jantar, a gente dizia no ar que estavamos com fome. entao, uns fas que moravam ali perto, passaram a nos trazer pizza quase toda segunda-feira. essa troca com os ouvintes era incrivel!

E assim foi; o Hellradio hj é um pgm mais lembrado do q ouvido, nao tenho UMA FITA sequer do pgm, pois ele era ao vivo e eu nao tinha como deixar gravando, mas de vez em qndo, aparece alguem me dizendo q tem as tais fitas, mas jamais me entrega copias. Tivemos uma pequena sobrevida na radio costa verde, de itaguai (por conta do fa/amigo larry antha, do sex noise). eu e andre iamos uma vez por mes gravar os pgms, pq era longe pra carater, mais de duas horas de carro pela brasil e mais um pedaço da rio-santos ate chegar lá, nao dava pra fazer isso toda semana (só valia pra comprar cerva Itaipava, que nao tinha aqui na época). e, nao sendo ao vivo e sem o calor dos comentarios, nao durou muito. O curioso é que, a tal radio maldita, que nos xingava, pq a gente tocava 'dance music', vendeu o seu espaço no dial para a... Jovem Pan!

*quisemos fazer uma festa de aniversario de 20 anos do hellradio numa famosa casa indie carioca, mas, ate hj, estamos esperando o retorno. sabe como é, rio de janeiro...

Comentários

  1. Muito legal esse relato, Tom! A HR era algo diferente , mesmo na Maldita. Interação constante com o público, a busca pelo novo, a crítica ácida ao paradigma do rock da época (que se achava tão moderno, mas alheio às reais novidades que vieram a mudar o mundo pop). Fico imaginando o que estaríamos tocando hoje se tivessemos continuado. E te garanto que o mesmo rock establishment estaria reclamando novamente, pois entraria no playlist muito house, disco, balearic, além de punk, post-post-punk, rocks experimentais e coisas que nadam contra a maré.
    Saudades.

    ResponderExcluir
  2. Viagem no tempo total. Não perdia um, hoje tenho 43 anos e no dial não tem nada que se compare com o HellRadio. Ótimas lembranças. Valeu Tom.

    ResponderExcluir
  3. tom,
    espero que toda sua bagagem um dia vire livro (nem sei se existe pq te acompanho há pouco tempo), mas acho sensacional seus comentários a respeito de tudo.

    ResponderExcluir
  4. OS COMMENTS DELETEDS ACIMA ERAM APENAS REPETIÇÕES DO MESMO DO MARCOS ANTONIO DE SOUZA, OK? CASSIA, TO APROVEITANDO O BLOG PRA IR ESBOÇANDO O Q PODE VIR A SER UM LIVRO, CONTANDO HISTORIAS E SENDO AJUDADO PELA PROPRI GALERA A MEDIDA EM QUE VOU LEMBRANDO DOS FATOS...

    ResponderExcluir
  5. Nessa época eu tinha uns quinze anos, gravei várias fitas cassete do programa e ficava ouvindo no recreio do Pedro II-Humaitá. Lembro de uma vez que vcs tocaram o recém lançado Locolive dos Ramones na ìntegra, fiquei impressionado com os repetidos pne-two-three-four entre as músicas de 1 minuto deles. O Programa fez a minha cabeça, lá escutei Danzig, Ministry, Black Flag, KMFDM, as demos da galera do rock nacional. Bons tempos!

    ResponderExcluir
  6. Nessa época eu tinha uns quinze anos, gravei várias fitas cassete do programa e ficava ouvindo no recreio do Pedro II-Humaitá. Lembro de uma vez que vcs tocaram o recém lançado Locolive dos Ramones na ìntegra, fiquei impressionado com os repetidos pne-two-three-four entre as músicas de 1 minuto deles. O Programa fez a minha cabeça, lá escutei Danzig, Ministry, Black Flag, KMFDM, as demos da galera do rock nacional. Bons tempos!

    ResponderExcluir
  7. Oya, cabrón! Mtas lembranças do HellRadio, foi dali q nasceu o meu programa Night Session. Tínhamos o imortal "módulo motherfucker", onde só tocava rap na "rádio rock"... Na era Costa Verde, as idas & voltas a Itaguaí eram "tudo"... Lembra qdo levamos o Bernardo (filho da Ana Maria Bahiana) por lá?! Valeu pelas memórias!

    ResponderExcluir
  8. Oya, cabrón! Ótimas memórias! Foi do HellRadio q nasceu o meu programa na Flu, o Night Session. Inesquecível era o "módulo motherfucker", q tocava rap na "rádio rock" só pra irritar os hippies velhos, hehehe... Valeu!

    ResponderExcluir
  9. Aproveito para, depois de anos, então, agradecer por ter me apresentado bandas como o Planet Hemp, Raimundos etc.
    À exceção do Ronca, a gente que resolveu montar banda nos anos 2000 e tal (e já com certa idade e cabelos ralos ;-)) sente falta de um espaço assim.
    Grato!
    Lismar Santos

    ResponderExcluir
  10. Aproveito para, depois de anos, então, agradecer por ter me apresentado bandas como o Planet Hemp, Raimundos etc.
    À exceção do Ronca, a gente que resolveu montar banda nos anos 2000 e tal (e já com certa idade e cabelos ralos ;-)) sente falta de um espaço assim.
    Grato!
    Lismar Santos

    ResponderExcluir
  11. nossa!! q delícia nostálgica!! Eu AMAVA Hellradio!! pra mim era um ritual ouvi-los. e sempre com a fitinha cassete de prontidão pra gravar as coisas mais legais! eu tinha váárias fitinhas do hellradio.

    ResponderExcluir
  12. nossa!! q delícia nostálgica!! Eu AMAVA Hellradio!! pra mim era um ritual ouvi-los. e sempre com a fitinha cassete de prontidão pra gravar as coisas mais legais! eu tinha váárias fitinhas do hellradio.

    ResponderExcluir
  13. Cara, Tom...agora bateu uma nostalgia braba...pq se foi com o Rio Fanzine que aprendi a descobrir/buscar o melhor da cultura pop, foi o HellRadio que me apresentou uma pá de coisas que numa era pré-internet era impossível de se ouvir sem se gastar um bocado...lembro de como eu ficava ansioso às segundas esperando o programa começar pra ouvir as piadinhas sem graça do André...hehe...foi um programa inesquecível...sdds de uma época de ouro para mim...

    ResponderExcluir
  14. Eu tive a sorte de ouvir algumas poucas edições na época em que fui trabalhar no Rio, não esqueço até hoje de ter ouvido "Cop Killer" no programa. Consegui com um amigo, tempos depois, o programa especial com temas de desenhos e seriados. Posso não ter mais onde rodar a fitinha, mas ela continua guardada lá em casa.

    ResponderExcluir
  15. Programão que teve a coragem de soltar o fantástico Live at Budokan do S.O.D.

    ResponderExcluir
  16. Programão que teve a coragem de soltar o fantástico Live at Budokan do S.O.D.

    ResponderExcluir
  17. Tom,blz? Cara, posso dizer que o Hellradio e o Night Session foram os programas mais importantes do dial carioca, devo muito do que conheço musicalmente a estes programas (juntamente com o College Radio do Lariú e mais recentemente com o ronca do MalVal)...mas o que herdei e tenho comigo, é a vontade de pesquisar a musica, buscar informações a respeito de bandas etc...isso, veio desses programas, ninguém sabia nada sobre o q, ou quem era Bad Religion, Trick, Kmfdm...cara, um abraço e meu maior respeito! Fabricio - ZN - 33 anos

    ResponderExcluir
  18. Tom,blz? Cara, posso dizer que o Hellradio e o Night Session foram os programas mais importantes do dial carioca, devo muito do que conheço musicalmente a estes programas (juntamente com o College Radio do Lariú e mais recentemente com o ronca do MalVal)...mas o que herdei e tenho comigo, é a vontade de pesquisar a musica, buscar informações a respeito de bandas etc...isso, veio desses programas, ninguém sabia nada sobre o q, ou quem era Bad Religion, Trick, Kmfdm...cara, um abraço e meu maior respeito! Fabricio - ZN - 33 anos

    ResponderExcluir
  19. Tom,blz? Cara, posso dizer que o Hellradio e o Night Session foram os programas mais importantes do dial carioca, devo muito do que conheço musicalmente a estes programas (juntamente com o College Radio do Lariú e mais recentemente com o ronca do MalVal)...mas o que herdei e tenho comigo, é a vontade de pesquisar a musica, buscar informações a respeito de bandas etc...isso, veio desses programas, ninguém sabia nada sobre o q, ou quem era Bad Religion, Trick, Kmfdm...cara, um abraço e meu maior respeito! Fabricio - ZN - 33 anos

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

DANCETERIA, UMA MODA FUGAZ

POR CONTA DO POST ANTERIOR (QUE ERA SÓ SOBRE CLUBES ALTERNATIVOS QUE MARCARAM A NOITE CARIOCA), ME PERGUNTARAM SOBRE OUTRAS CASAS, QUE, NA VERDADE, ERAM DE SHOWS, DANCETERIAS. ENTAO, VAMOS LÁ, RELEMBRA-LAS. ANTES: VALE NOTAR QUE O NOME 'DANCETERIA' FOI IMPORTADO DE UMA CASA QUE TINHA ESSE NOME EM NOVA YORK, NOS ANOS 80. ALGUEM TROUXE PRA CÁ (ACHO QUE COMEÇOU POR SP) E ACABOU VIRANDO SINONIMO DE UM TIPO DE LUGAR, QUE MISTURAVA PISTA DE DANÇA COM UMA ATRAÇÃO AO VIVO NO MEIO DA NOITE. METROPOLIS = A PRIMEIRA COM ESSAS CARACTERISTICAS NO RIO FOI A METROPOLIS, EM SAO CONRADO, QUE, ASSIM COMO O CUBATÃO, TBM ABRIU NA SEMANA/MES EM QUE ACONTECIA O PRIMEIRO ROCK IN RIO, JANEIRO DE 1985. COMO O NOME INDICA, SEU LOGOTIPO E SUA DECORAÇÃO IMITAVAM O ESTILO DO CLASSICO SCI-FI DE FRITZ LANG, INCLUSIVE COM PASSARELAS NO MEIO DELA, QUE REMETIAM ÀS PONTES MOSTRADAS NO FILME. SÓ QUE TUDO COM NEON, CLARO. A METROPOLIS FOI PALCO DE MUITOS SHOWS DE BANDAS QUE NAO FAZIAM O PERFIL DO CIRCO VOADOR, PQ ...

BAYAAABAAA!

A TV ITALIANA LEMBRA A TV BRASILEIRA DOS ANOS 70, 80 UMA COISA MEIO SBT NOS PRIMÓRDIOS (TVS) OU TV CORCOVADO (PRE-CNT). É MUITO RUIM E SÓ PASSA COISAS ANTIGAS. O CURIOSO É QUE AS RADIOS LA SAO MAIS LEGAIS DO QUE AS DAQUI, MAIS VARIADAS (TEM ATE UMA VIRGIN RADIO, DE ROCK EM GERAL). MAS A TV LOCAL É DO ARCO DA VELHA. LOGO QUE CHEGO NUMA CIDADE DOU GERAL NO LINEUP DE AUDIO E VIDEO. EM ROMA, ACHEI UM CANAL DEDICADO AOS LANCES JAPAS, A NEKO TV, MAS QUE, CURIOSAMENTE, EXIBIA 'BIGFOOT & WILDBOY', SERIE TRASH DA DUPLA SID & MARTY KROFT (ELO PERDIDO), QUE ROLAVAQUI NO SBT. ATE AI, TUDO BEM. MESMO NAO SENDO JAPA, FAZIA SECULOS QUE NAO VIA AQUILO (AQUI, PÉ GRANDE E GAROTO SELVAGEM). ACONTECE QUE, PELOS PRÓXIMOS CINCO DIAS QUE PASSEI NA CIDADE, O CANAL SÓ EXIBIA O MESMÍSSIMO EPISÓDIO DA PARADA (AQUELE EM QUE APARECE UM SOSIA DO PÉ GRANDE), EM VARIOS HORARIOS! LIGAVA A TV PELA MANHÃ, TAVA LÁ. CHEGAVA DA RUA A NOITE, DE NOVO, A MESMA COISA. O GRITO DE GUERRA DO BIGFOOT, BAYAAABAA! A...

UM BELO FILME DE VINGANÇA!

  Nesta semana, chega aos cinemas brasileiros um concorrente do Oscar nas categorias principais: filme, atriz e direção, entre outras. “Bela Vingança” (“Promising Young Woman”), desde já um dos melhores e mais perturbadores filmes do ano.   Tanto o trabalho de atuação e entrega de Carey Mulligan (como a perturbada Cassandra), como a direção firme de Emerald Fennell (atriz de séries como ‘The Crown’ e ‘Killing Eve’, estreando na direção de longa, com muita competência), bem como toda a parte técnica do filme (além do bom roteiro, fotografia e som impecáveis) é irretocável. O resultado final é um dos mais formidáveis filmes de vingança já vistos. Carey Mulligan, como Cassie      Acompanhamos a tímida e frágil Cassandra, que apesar de já estar na casa dos 30 anos, ainda mora com os pais e não tem namorado (não que isso seja obrigatório, parece nos dizer a personagem, embora não os evite). E, mesmo tendo sido uma universitária com altas notas na cadeira que escolh...