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O FALSO BRILHO DA AMBIÇÃO



Adam Sandler é o tipo do ator ame/odeie. Ele faz um humor que americano adora (seus filmes, por pior que sejam, faturam muito bem nos EUA, embora venham fazendo menos sucesso ultimamente) e nosotros aqui não gostamos tanto assim. Geralmente, faz tipos metidos a engraçadinhos, mas que, no fundo, são verdadeiros malas-sem-alça. É essa a imagem que ele passa, do camarada carismático, mas irritante.



   Pois bem, em ‘Jóias brutas’ (‘Uncut gems’), Sandler (que, geralmente, produz seus próprios filmes e, aqui, está controlado; ou seja: não é um filme de Adam Sandler, mas com ele) explora muito bem esse tipo, elevado à enésima potência, num trabalho bastante tenso e sério, que não tem nada de engraçado, a não ser nos fazer rir de nervoso. Como Howard Ratner, um joalheiro judeu do distrito dos diamantes, em Manhattan, que vive a vida freneticamente, equilibrado em apostas vultosas em jogos de basquete, penhora de relógios caríssimos e outros escambos. Tudo em volta da caótica vida de Howard gira em torno de dinheiro, apostas e envolvimento com tipos duvidosos.



   E, a beleza do filme, dos irmãos Safdie (Benny & Josh, de 'Bom comportamento') é conseguir traduzir tudo isso, de uma forma absolutamente neurótica e non-stop, arrancando de Sandler (revelado no programa de humor ‘Saturday night live’, nos anos 90) uma atuação visceral e espetacular, diferente de tudo o que já vimos com ele (que tem comédias bem legais no currículo, como ‘Afinado no amor’). Seu Howard é totalmente crível, humano. Um louco metido num beco sem saída, mas que sempre aposta (alto) de novo.



   No caso, acompanhamos a última grande aposta dele: uma rara pedra africana (uma opala etíope), com a qual almeja alcançar altos lances num leilão, ou vendendo-a para um famoso jogador de basquete (feito por Kevin Garnett, ex-jogador do Boston Celtics; aliás, o rapper The Weekend também está no filme, como ele mesmo). Este, sente uma conexão com a pedra e acha que ela lhe trará sorte no esporte. Não dá para ter as duas coisas ao mesmo tempo, sem arriscar.



   O filme é uma montanha-russa de emoções, que te faz falar alto, sozinho, rir, gesticular, chorar, roer as unhas. E a melhor coisa que Sandler fez na vida. Digna de indicação, merecida, para Oscar. Chega aqui dia 31, nos cinemas e Netflix.

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