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UM ELEFANTE, UMA DIVA E UMA DANÇA MACABRA







   Tim Burton nunca se deu muito bem com remakes. O seu 'Planeta dos macacos' é um horror (apesar de um final bizarro/engraçado) e sua abordagem de 'Alice, no país das maravilhas' (que tinha tudo para ser muito boa), foi uma grande decepção. Contudo, ele não foi tão mal sucedido assim com ' A fantástica fábrica de chocolates'. Trouxe uma certa perversidade, que está no original de Roald Dahl, mas que o filme dos 70s deixou de lado. Agora, com 'Dumbo' (a primeira versão live action do clássico desenho Disney) ele parece ter encontrado o equilíbrio. Até porque, o seu 'Dumbo' não é exatamente um remake, mas uma reinterpretação.

Como o material original só tinha 70 minutos, e o filme tem cerca de duas horas, tramas e personagens foram adicionados (agora, seu melhor amigo, o ratinho Timóteo, foi trocado por uma dupla de irmãos órfãos de mãe), e, coisas como o elefantinho bêbado, tenham sido deixadas de fora, nestes tempos mais corretos (inclusive com um final adequado). Mas, os elefantes rosa, estão lá, deslumbrantes. Em todo momento, fica claro que, esta, não é uma versão ao pé da letra do original. Mas uma reinterpretação de Burton, com todos os toques dark e magnífica direção de arte.

 O lado sombrio de Burton (e a indefectível trilha de Danny Elfman) está muito bem equilibrado com a parte família Disney (ainda que, de certa forma, o filme meio que critique o conceito Disneyland). Ainda que os personagens extra não tenham sido bem delineados (a deslumbrante Eva Green faz um tipo unidimensional, e Michael Keaton, apenas personifica o mal, de modo algo caricato), e a parte dramática do desenho tenha sido amaciada (ninguém irá chorar tanto como antes), o resultado final é bastante satisfatório. O elefantinho em si, é muito fofo, com seu olhar triste e inocente, e olhos azuis, como no desenho. Ainda que não seja um grande Burton, é o seu melhor, em muito tempo. 

 Rugido: elefantino



  Por conta de um fato traumático vivido em sua adolescência (o ataque de um atirador em sua escola, que quase lhe custou a vida), Celeste, uma menina de família religiosa, é tornada famosa -- após canção em lembrança ao massacre, cantada por ela, 'viralizar' --, e levada a trilhar uma carreira artística a partir daí, com muito sucesso, até se tornar uma diva pop.

Mas, apesar do que vende o trailer, ‘Vox Lux: o preço da fama’ (‘Vox Lux’), não é exatamente um filme sobre a carreira de uma popstar, apenas. Mas, como um fato inesperado, dá uma guinada na vida de uma pessoa, e a leva a trilhar outro caminho. Relutantemente, Celeste (vivida em duas fases, na adulta, por Natalie Portman, que só entra em cena na metade do filme) vai na onda (levada por empresário, feito por Jude Law) e, só depois de seus 30 anos, e já mãe, percebe que não era bem aquilo que queria da vida.

Com canções originais de Sia (hitmaker por trás do sucesso de superstars como Katy Perry) e trilha orquestral a cargo do recém-falecido Scott Walker (e narração de Willem Dafoe), ‘Vox Lux’ tem música (sobretudo no final), mas nunca é realmente um musical. É mais um estudo psicológico de Celeste, ao longo de 18 anos, e de como um fato inesperado muda tudo. Cabe a pessoa viver essa outra vida ou não.

Rugido: volumoso




Refilmar um clássico do terror não é uma tarefa fácil. Mas, o diretor Lucas Guadagnino, preferiu seguir um caminho mais desafiador, após o sucesso de ‘Me chame pelo seu nome’, do que apostar no óbvio. E escolheu ‘Suspiria’, que Dario Argento realizou em 1977, para o desafio. Acabou não fazendo um remake ao pé da letra, mas uma reinterpretação.

   Este ‘Suspiria: a dança do medo’, é mais detalhado e entra mais nos personagens, do que o de Argento. O problema é que, para isso, alongou em quase uma hora (incluindo um prólogo) a trama original. Se não satisfaz, em termos de terror, tem suas qualidades. 

A trama mostra uma americana (agora feita por Dakota Johnson, mas, a original, Jessica Harper, faz uma ponta) que, ao entrar para uma prestigiada academia de dança, em Berlim (ainda nos tempos do muro), descobre que aquilo tudo, é apenas uma fachada para algo que não tem a ver apenas com arte.

>>Se quiser algo mais radical -- e próximo do clima aflitivo de Argento --, tente ‘Clímax’, de Gaspar Noé (recém exibido no Brasil), que é sobre dança. E também abusa dos tons vermelhos do ‘Suspiria’ original, embora não tenha nada de sobrenatural.

rugido: tímido


*a estreia no Brasil mudou para 11 de abril

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