Pular para o conteúdo principal

ENVENENADO PELO ESTILO


  Paul Thomas Anderson é um prodígio. Aos 26, realizou 'Boogie nights', seu longa de estreia, que aumentava um curta que ele tinha feito dez anos antes, sobre um fictício ator pornô chamado Dirk Diggler. Seu trabalho seguinte, foi o ambicioso 'Magnolia', espécie de homenagem a Robert Altman: um filme longo e cheio de personagens, cujas historias se entrecruzam aleatoriamente. Daí em diante, cada novo filme seu era esperado com altas expectativas, pelos fãs e pela crítica. Ele fez até um com Adam Sandler (!?), 'embriagado de amor'. Mas, sua obra-prima, veio em 2007: 'There will be blood' (sangue negro), um daqueles raros filmes que, quando acaba, dá vontade de aplaudir de pé na sala, e gritar 'bravo!' Um dos grandes trunfos do filme, é Daniel Day-Lewis, que, não a toa, ganhou Oscar de melhor ator no ano seguinte. É um dos cinco melhores filmes deste novo século.


Agora, no momento em que Day-Lewis anuncia sua aposentadoria do cinema, se juntou novamente com PTA, para 'phantom thread/trama fantasma' (que concorre a seis Oscars 2018, incluindo diretor e ator), que estreia no Brasil em 22 de fevereiro. Mais uma vez, temos uma performance bastante dedicada de DDL. E, pela primeira vez, um filme de PTA não passado nos EUA, muito menos em sua Los Angeles querida (a cidade, é personagem importante, em quase todos os seus filmes). Trata-se de uma luxuriante produção ambientada numa Londres dos pós-guerra (anos 50), focada em Reynolds Woodcock (!), um excêntrico e meticuloso criador de vestidos fantásticos, para mulheres muito ricas, e a realeza europeia. Além de deslumbrantes, as criações de Woodcock não são para qualquer um. Não importa o dinheiro. Ele, e o vestido, escolhem suas donas. São obras de arte.



Solteirão convicto, e meio dândi, Woodcock tem sua rotina interrompida, quando se encanta com garçonete de restaurante de hotel campestre. Ele, vê nela, a modelo perfeita para seus vestidos. O olhar de Woodcock para com as mulheres, vai além do sexual. Ele as vê como criaturas perfeitas para suas criações. A principio, Alma (o nome da moça, feita por Vicki Krieps, arrebatadora), não se adequa ao estilo de vida de Woodcock. Não apenas muito snob, como também cheio de regras e esquisitices. Apesar de ser uma mulher com opiniões fortes, ela é apenas uma musa, uma peça para ele. Submissa. Aos poucos, os dois vão se afinando, depois de vários entreveros. Ao ponto de encontrarem algo em comum, de modo muito estranho. Mas, que vai reforçar o amor entre eles. Um amor torto, mas verdadeiro. A trilha de Jonny Greenwood (radiohead), completa tudo.


Trama fantasma (o termo, refere-se a um tipo de costura que Woodcock faz nos ternos, onde esconde segredos e coisas pessoais), é um filme bastante hermético, fechado, muito pretensioso. E, sem concessões. Em diversos momentos, o diretor poderia ter feito isso ou aquilo, para agradar, tornar o filme mais acessível.  Mas, não. É destinado ao circuito de arte (apesar de se um dos filmes mais caros do diretor, que deve demorar a se pagar). Contudo, PTA reafirma sua condição no cinema atual: a de um diretor talentoso, original (o roteiro é dele), que não se vende ao mercado. Ainda bem que existem estúdios/produtores que bancam. Um belo estudo de personagens.

cotação: RUGIDO FORTE

https://youtu.be/xNtD8Tj1q5s

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DANCETERIA, UMA MODA FUGAZ

POR CONTA DO POST ANTERIOR (QUE ERA SÓ SOBRE CLUBES ALTERNATIVOS QUE MARCARAM A NOITE CARIOCA), ME PERGUNTARAM SOBRE OUTRAS CASAS, QUE, NA VERDADE, ERAM DE SHOWS, DANCETERIAS. ENTAO, VAMOS LÁ, RELEMBRA-LAS. ANTES: VALE NOTAR QUE O NOME 'DANCETERIA' FOI IMPORTADO DE UMA CASA QUE TINHA ESSE NOME EM NOVA YORK, NOS ANOS 80. ALGUEM TROUXE PRA CÁ (ACHO QUE COMEÇOU POR SP) E ACABOU VIRANDO SINONIMO DE UM TIPO DE LUGAR, QUE MISTURAVA PISTA DE DANÇA COM UMA ATRAÇÃO AO VIVO NO MEIO DA NOITE. METROPOLIS = A PRIMEIRA COM ESSAS CARACTERISTICAS NO RIO FOI A METROPOLIS, EM SAO CONRADO, QUE, ASSIM COMO O CUBATÃO, TBM ABRIU NA SEMANA/MES EM QUE ACONTECIA O PRIMEIRO ROCK IN RIO, JANEIRO DE 1985. COMO O NOME INDICA, SEU LOGOTIPO E SUA DECORAÇÃO IMITAVAM O ESTILO DO CLASSICO SCI-FI DE FRITZ LANG, INCLUSIVE COM PASSARELAS NO MEIO DELA, QUE REMETIAM ÀS PONTES MOSTRADAS NO FILME. SÓ QUE TUDO COM NEON, CLARO. A METROPOLIS FOI PALCO DE MUITOS SHOWS DE BANDAS QUE NAO FAZIAM O PERFIL DO CIRCO VOADOR, PQ

ROCKS TARDES DE DOMINGO...

  LÁ VAMOS NÓS PARA MAIS UM PASSEIO PELA MEMORY LANE, CUJO GATILHO FOI ATIVADO POR UMA MÚSICA. ESTAVA OUVINDO O ÁLBUM DE 40 ANOS DO KISS, QUANDO ROLOU 'DO YOU LOVE ME'. NA HORA, VIERAM MONTES DE LEMBRANÇAS QUE PASSEI AO SOM DESSA MUSICA (E TBM DE ROCKN ROLL ALL NITE) NOS BAILES DE ROCK QUE ROLAVAM AOS DOMINGOS NO CLUBE DE REGATAS GUANABARA, EM BOTAFOGO, COMANDADOS PELA EQUIPE META-SOM, DO DJ ANIBAL. DE 6 AS 10PM.   EU MAL DEVIA TER 12, 13 ANOS QUANDO COMECEI A FREQUENTAR O BAILE, O PRIMEIRO A QUE FUI, SOZINHO, SÓ COM AMIGOS. E, COMO DUROS QUE ÉRAMOS, GERALMENTE ENTRÁVAMOS DE PENETRA, PULANDO GRADES E MUROS EM VOLTA DO CLUBE. DEVO TER PAGADO APENAS MEIA DUZIA DE VZS, EM, SEI LÁ, DOIS ANOS. ERAM MEADOS DOS 70S. O ROCK MANDAVA. MAS A FESTA COMEÇAVA, INVARIAVELMENTE, COM 'DANCING QUEEN', DO ABBA, QUE ERA CONSIDERADA UMA BANDA ROCK, JA QUE AINDA NAO EXISTIA A DISCO MUSIC E O CONCEITO DE POP/ROCK ERA AMPLO.   E, COMO QUALQUER BAILE DE FUNK E SOUL DA ÉPOCA (QUE ROLAVAM DO OUTR

blue velvet

Os posts aqui surgem do nada, out of the blue, como em hiperlinks da internet. e nessa de relembrar coisas aleatoriamente, apareceu num dos sites de torrents que frequento um filme chamado "little girls blue". que foi o meu primeiro porno. e, como diz a frase daquele anuncio, a gente nunca esquece do primeiro. principalmente em se tratando disso, numa epoca em que tudo poraqui era proibido. entao, no começo dos 80´s, quando o país ainda era uma ditadura, tive contato com esse filme. Sabadão, fui na casa de um bro no jardim botanico fazer chill in pra noitada. o cara tinha um telao em casa e um aparelho de vhs gigantesco com retroprojeçao (soube mais tarde q o pai dele era diretor da grobo, dai os equipamentos, que, entao, eram de ponta total, o vcr caseiro ainda nao era uma realidade). la, ele tinha uma meia duzia de fitas, todas piratas, claro, entre as quais um show (sei la, acho q era woodstock), clipes da mtv, o famoso caligula e o little girls blue. como esse era mais cu