Dia destes, assisti ao documentário ‘Cassette: a
documentary mixtape’, feito para celebrar os 50
anos da fita cassete. A mídia, foi criada pelo engenheiro da Philips, o
holandês Lou Ottens (ainda vivo, aos 90), em 1963, e exibida naquele, mesmo
ano, numa feira de eletrônica, em Berlim. Logo, os japoneses copiaram a ideia, e
Lou, teve de ir a Tóquio, pedir que, já que é para copiar, que pelo menos, se
criasse um padrão. Foi por isso, segundo ele, que o formato durou tanto tempo.
Hoje, com o cassete
experimentando um revival, similar ao do vinil (já existem gravadoras, aqui e
no exterior, produzindo novamente as fitas; além de um cassette day, como o
record store day do vinil), é bom recordar como a fita cassete foi importante
em sua época. A princípio – e com o uso de um aparelho gravador portátil,
também lançado pela Philips – tornou possível, não apenas levar a música ‘para
viagem’ (antes do conceito japonês do walkman, da Sony), como também gravar
sons externos e músicas diretamente do rádio – além de possibilitar a cultura
do bootleg, gravações piratas, ao vivo, de shows.
Outra coisa
bacana que o cassete possibilitou: a cultura da mixtape, aquela fitinha que
você gravava, com amor e carinho, para algum amigo querido ou namorada. A
seleção meticulosa das músicas, e a arte das capas, eram partes importantes do
processo. Hoje, usa-se o termo ‘mixtape’, para seleções de faixas digitais.
No começo da
cultura hip-hop, o cassete foi importante por dois motivos: permitia gravar o
set dos DJs (só havia como ouvir aquelas músicas nas festas, já que eram
tocadas e mixadas em vinil, na hora) e, depois, carrega-las e divulga-las
através dos ghetto-blasters, aqueles potentes aparelhos de som portáteis.
Depois, as
mixtapes foram parte importante do processo de divulgação da cena alternativa
do rock. Qualquer um, com um pequeno estúdio portátil ou um bom microfone
acoplado ao gravador, produzia seu próprio disco em casa e depois o distribuía,
através das chamadas demo tapes, nos shows, festas, passando de mão em mão. Foi
a primeira vez em que a musica foi realmente livre. Existiu até uma gravadora,
em Nova York, a ROIR (que, sequer é citada no documentário) que gravava e
lançava bandas punk apenas em cassete.
Curiosamente,
Lou Ottens, que pontua o filme com suas lembranças das Compact Cassettes (como
foram chamadas no começo), não tem a menor saudade
das fitas, que ele considera um formato ultrapassado e obsoleto (de fato, as
fitas nunca tiveram bom som ou durabilidade). Lou, foi também um dos criadores
do compact disc, o popular CD, que também já ficou ultrapassado. Como ele diz:
é melhor sempre olhar para a frente.
Hoje, com a música
fluindo fácil, digitalmente, e por serviços de streaming, como Deezer, Spotify
e outros, a ‘volta’ do cassete ficará restrita apenas a um pequeno grupo de
cultuadores e fãs de mídia vintage. Mas, sua importância, jamais será apagada.
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