A pobreza
tem cheiro? É o que parece nos perguntar ‘Parasita’ (‘Gisaengchung’), de Bong
Joon-ho, dos sensacionais ‘Expresso do amanhã’ e ‘O hospedeiro’. Com esta
produção nova, o cineasta sul coreano levou a principal Palma de Ouro, a de melhor
filme, no Festival de Cannes deste ano. Foi o único filme daquele país, em
todos os tempos, a conquistar tal prêmio. Também o filme coreano campeão de
bilheteria de todos os tempos na Indonésia. E, claro, a opção óbvia para o
Oscar estrangeiro de 2020. É o meu favorito.
Na trama,
que mistura muito bem doses de humor ( negro), sátira social e melodrama, vemos
uma família de quatro desempregados (sobrevivem montando caixas para entregas
de pizzas) que bola um esquema para se infiltrar na casa de uma família
abastada, a partir de uso de documentos falsificados. Depois que um deles consegue, os outros vão sendo inseridos no
esquema aos poucos. O filho vira tutor; a irmã deste, professora de artes; a
mãe, consegue o cargo da empregada da família; e, por fim, o pai vira o
motorista do rico empresário da poderosa família Park.
Mas, o que
vemos mesmo, é a distância que há entre a ponta mais rica e a mais pobre na
sociedade sul coreana. Os pobres, vivem, em sua maioria, nas partes baixas e
subterrâneas da cidade. Por isso, têm um cheiro ‘diferente’. Já os ricos, em
mansões, nas partes altas. (no Brasil, curiosamente, sobretudo no Rio, os pobres vivem nos altos, nas favelas, em morros e colinas com mata e vistas espetaculares). E, não há como uma ponta ter contato com a outra. A
não ser neste tipo de ocupação: a do subserviente/empregado. Uma situação a qual
conhecemos muito bem por aqui. Contudo, a diferença não é de cor de pele. É algo mais de formação. E, como vamos ver, questão de cheiro, também.
‘Parasita’, segue
explorando essas diferenças, muito bem. Até que, lá pela sua metade, um acontecimento
inesperado causa reviravolta. E que reviravolta! (a qual, alias, explica o nome do filme). No decorrer da trama, Bong Joon-ho nos faz pensar, numa escala global, sobre o assunto. O cineasta já havia explorado diferentes classes
sociais em ‘O expresso do amanhã’ (Snowpiercer), na qual os últimos sobreviventes da Terra,
que foi congelada, dividem um mesmo trem, separados em vagões/categorias. E, mesmo no
seu ‘filme de monstro’, o ecológico ‘O hospedeiro’, isso estava presente, através de uma família de mendigos.
Também presente, em todos os citados, está o ator-assinatura do diretor,
Kang-ho Song.
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