Descobri, há alguns meses, uma ótima série espanhola, no Netflix. E, não, não é aquela sobre a qual todo mundo fala, que
envolve uns mascarados e roubo a banco. É bem menos clichê. É algo que eu
nem veria, normalmente: uma série teen, passada numa escola secundária. É
‘Merli’. Vi as três temporadas (a série já está encerrada) com um prazer que
não sentia há muito tempo.
Merli é o
nome de um professor de filosofia sexagenário (Francesc Orella, magnífico!),
que dá aulas para uma garotada na casa dos 16, 17 anos, numa escola pública de
Barcelona, a Angel Guimera. Mas, a grande sacada da série, é usar da filosofia,
para passar lições de vida para a galerinha, a qual Merli batizou de os
Peripatéticos (filósofos da Grécia Antiga que seguiam Aristóteles) do Século
XXI. Cada episódio leva o nome de um filósofo importante (de Platão a
Nietzsche, de Sócrates a Foucault), e as filosofias/ideias deles, são aplicadas
e inseridas na trama, perfeitamente.
Além disso,
o que sobressai na série, é a alta qualidade dos textos (de Héctor Lozano) e das
atuações. O elenco, quase todo composto por jovens atores -- nas idades certas
de seus personagens --, nunca parece atuar. São vivos, multidimensionais, gente
de verdade. E, acostumados que estamos a ver séries adolescentes passadas em
high school americanas, logo somos surpreendidos pela fuga aos clichês que ‘Merli’
propõe. Os dramas da rapaziada são mais próximos da vida real (inclusive, da
nossa realidade latina), eles são menos encanados, nem tudo é preto e branco.
Assim, assuntos como política, sexualidade, morte
e preconceitos em geral, são tratados adequadamente. Não há exatamente um
bonzinho, rainha do baile, vilão (o próprio Merli, não é um tipo que você veria
numa série ‘certinha’, ele é algo amoral e ateu convicto). Mas, há, claro, alguns
personagens que se destacam. Contudo, as pessoas, não são totalmente boas ou
más, como já nos ensinaram os filósofos. A natureza humana é complexa. Ainda
mais, nos anos de formação, no qual somos tomados por todo tipo de dúvidas em
relação ao futuro. E, a nós mesmos.
O
bônus: a série e os assuntos são tratados de forma tão bacana, que dá no
espectador a vontade, ao mesmo tempo, de (re)ler os filósofos, ou voltar para
os bancos da escola. Pena que não há garantia de pegar um professor ou turma tão
bacanas assim. Por isso, quando a gente finaliza a série, bate uma saudade
danada daquelas pessoas. Para estes, o autor acena com um spin-off, sob o ponto
de vista de Bruno, o filho de Merli. Sairá, primeiro, sob a forma de livro,
‘Quando éramos peripatéticos’, que será lançado no segundo semestre deste ano.
Então, fica a
dica para uma maratona, ou para ver algo além do lugar comum. ‘Merli’, é tudo
isso, e, ainda por cima, nos faz descobrir como é gostoso ouvir catalão (que
parece uma mistura louca de francês, castelhano e português). Só sabemos que
nada sabemos...
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